domingo, 14 de junho de 2009
Calabar
Com a peça Calabar (1973), Chico Buarque e Ruy Guerra fizeram uma abordagem em cima de uma personagem histórica, e a visão do derrotado no processo de construção da historia oficial.
Calabar proclamado traidor-nato na historia nacional. Claro que essa abordagem está longe de tentar transformar “bandido” em “herói ” ou vice-versa. mas sim uma maneira de ver, e ou interpretar os fatos, as razões, as circunstâncias históricas da época e todos atores envolvidos neste processo, fora da visão e historia oficial.
Entre 1630 e 1645, o Brasil estava em conflito com Holanda, devido a presença da mesma no nordeste brasileiro, na exploração econômica-mercantilista da época.
A figura de Domingos Fernandes Calabar é controvertida até mesmo entre os historiadores, em alguns aparece como senhor de engenho, em outros como soldado mulato, e assim por diante, a questão da classe social da personagem ainda é pouco esclarecida pelos pesquisadores.
Enfim vamos a peça, Calabar, morto e esquartejado, pelo crime de traição que cometera contra a coroa portuguesa. Lutar ao lado dos Holandeses comandados por Maurice de Nassau foi seu crime.
Bárbara (sua esposa) conduzirá a trama da peça até o fim e fará de tudo para entender o seu amor (Calabar), e mergulhará a fundo no universo das traições, pois a mesma acaba por se envolver afetivamente com Ana de Amsterdam, a prostituta que se envolvera emocionalmente com Calabar. E para embaralhar ainda mais a trama Bárbara se apaixonará também pelo o homem que traiu Calabar.
A peça de Chico Buarque mistura, diálogos, música e poesia. Uma bela obra que vez ou outra é encena por muitos grupos Brasil afora em muitas épocas.
A oficina do dia 30/01/09 foi toda destinada ao estudo sobre a peça, conteúdo, textos e músicas.
A música estudada, lida e declamada durante os exercícios foi Fado Tropical.
Oh, musa do meu fado
Oh, minha mãe gentil
Te deixo consternado
No primeiro abril
Mas não sê tão ingrata
Não esquece quem te amou
E em tua densa mata
Se perdeu e se encontrou
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal
"Sabe, no fundo eu sou um sentimental
Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dosagem de lirismo ( além da sífilis, é claro)
Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar
Meu coração fecha os olhos e sinceramente chora..."
Com avencas na caatinga
Alecrins no canavial
Licores na moringa
Um vinho tropical
E a linda mulata
Com rendas do alentejo
De quem numa bravata
Arrebata um beijo
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal
"Meu coração tem um sereno jeito
E as minhas mãos o golpe duro e presto
De tal maneira que, depois de feito
Desencontrado, eu mesmo me contesto
Se trago as mãos distantes do meu peito
É que há distância entre intenção e gesto
E se o meu coração nas mãos estreito
Me assombra a súbita impressão de incesto
Quando me encontro no calor da luta
Ostento a aguda empunhadora à proa
Mas meu peito se desabotoa
E se a sentença se anuncia bruta
Mais que depressa a mão cega executa
Pois que senão o coração perdoa"
Guitarras e sanfonas
Jasmins, coqueiros, fontes
Sardinhas, mandioca
Num suave azulejo
E o rio Amazonas
Que corre trás-os-montes
E numa pororoca
Deságua no Tejo
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um império colonial
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um império colonial
Foi uma ótima experiência para o grupo.
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