terça-feira, 25 de agosto de 2009

BUTÔ


Traduzindo-se o termo 'butoh', 'bu' significa dança e 'toh' quer dizer passo. Literalmente, dança compassada".
O estupro de uma galinha... Um senhor de noventa anos travestido... Bailarinos que agem como fetos desorientados saídos do ventre...
Concebido inicialmente como “ankoku butoh”, ou “dança das trevas”, ele surge no final dos anos 50, num Japão recém-humilhado pela rendição na Segunda Grande Guerra.
Numa cerimônia de iniciação, Yoshito (filho de Kazuo Ohno), lê silenciosamente as palmas de suas mãos, sendo observado durante cinco minutos por Tatsumi Hijikata. Ao receber dele uma galinha, simula sexo com a ave entre as pernas, acabando por matá-la. Em seguida, entrega-se ao ataque do próprio Hijikata. Nascia aí o Butô.
O primeiro coletivo de artistas de butô foi formado Hijikata, Kazuo Ohno, Yoshito, Mitsutaka Ishii e Akira Kasai. Este grupo sobreviveria por cinco anos e tanto Ohno quanto Hijikata sairam e ganharam o mundo, popularizando e aperfeiçoando a dança a partir do final dos anos 70.

A primeira performance de butô na Europa aconteceu em 1978. O Brasil só tomou conhecimento da dança nos anos 80, através de Kazuo Ohno, atualmente um senhor do mais de noventa anos que continua dançando e é sem dúvida o principal nome do Butô em todo o mundo.

"Posso dizer que tive influência do balé clássico depois de Isadora Duncan (1878-1910), que tirou as sapatilhas e começou a dança livre, rompendo com as formas do balé; também de Mary Wigman (1886-1973), que pertenceu à dança de vanguarda alemã dos anos 30 e uma das criadoras do expressionismo na Alemanha.
A dança de Wigman era completamente diferente do balé e da dança de Duncan. Era uma dança que nasce no interior, na intimidade do ser humano." (Kazuo Ohno)
A idéia de polidez asséptica e bem comportada do Balé é revirada pelo avesso, brincando com regras, regulações, idéias impostas e estereótipos. O Butô chegava ao cúmulo de negar a existência de um “corpo vivo”. O Butô baseia-se na idéia do “Corpo morto”.
Hijikata costumava observar uma galinha que, depois de ter sua cabeça cortada, continuava se movendo durante um certo tempo. Desse modo, a morte vem com o fim do comando cerebral. Mas os movimentos do corpo não partem só do cérebro, há processos que continuam, conquistando pequenas existências de outra qualidade, ainda que temporariamente, após a morte.
O “corpo morto” do Butô, a base verdadeira desta forma de expressão artística, sugere que os movimentos brotem segundo sua própria vontade e as leis de seu próprio mundo. O Butô busca a energia direto do ventre materno, quando ele ainda não foi exposto ao contato com o mundo exterior, fazendo brotar de lá sua energia vital.
É a forma sem forma, o conteúdo sem conteúdo, o cheio dentro do vazio, o nulo que é válido. Idéias próprias, sem correspondentes e equivalentes no mundo exterior, a não ser o que está dentro de você mesmo.

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