sábado, 26 de setembro de 2009

Décadas de 50 e 60



O TBC predominou nas atividades teatrais até o aparecimento do Teatro de Arena. Seu fundador foi o industrial paulista Franco Zampari e o elenco inicial, constituído de amadores, contava apenas com uma profissional: Cacilda Becker. Foram contratados encenadores italianos: Luciano Salce, Ruggero Jacobi, Adolfo Celi, Flaminio Bollini Cerri, Gianni Ratto e o polonês Ziembinski. O TBC é um marco. Surge depois do fim da ditadura de Vargas produzido pela burguesia, para a burguesia, importando técnica e repertório. Introduz definitivamente a estrutura profissional do teatro brasileiro, cria uma mentalidade nova de respeito e estudo, coloca os espectadores em contato com um nível superior de dramaturgia.

Forma um grande número de intérpretes que ao se dispersar vão formar outras companhias. Ex: Nídia Lícia – Sérgio Cardoso; Tônia – Celi – Autran; Teatro Cacilda Becker; Teatro dos Sete. O repertório era clássico e internacional exceção feita a Abílio Pereira de Almeida. Em 1948, Alfredo Mesquita funda a EAD (Escola de Arte Dramática) juntando o Grupo Universitário de Teatro (GUT) e o Grupo Teatro Experimental (GTE). Essa escola passa a formar profissionais para o TBC, e também os elementos que irão formar o Teatro de Arena e o Teatro Oficina.
Com a retirada dos diretores italianos, Flávio Rangel e Antunes Filho assumiram o TBC. Os novos espetáculos revelavam uma proposta nova e revolucionária - como forma e conteúdo. O povo entrou em cena no TBC conduzido por Flávio Rangel e Antunes Filho. O povo baiano de Pagador de Promessas e Revolução dos Beatos (Dias Gomes), o povo espanhol com Yerma (Garcia Lorca), os camponeses fanáticos de Vereda da Salvação (Jorge Andrade) e principalmente os operários de A Semente (Guarnieri). Pela primeira vez as paredes do TBC ouviam debates políticos e estremeceram, o público burguês, também deve ter estremecido.
O estrondoso sucesso de Ossos do Barão (Jorge Andrade), foi o fim entre festivo e melancólico do TBC.
Em 1955 surge A Moratória obra do dramaturgo paulista Jorge Andrade. Esta obra vai inscrever o seu autor na literatura social brasileira. A peça aborda a decadência da aristocracia paulista devido à crise cafeeira da década de 30. Além de grande sucesso a obra mereceu o prêmio Jornal do Brasil e prêmio viagem aos Estados Unidos. A Moratória, A Escada e Os Ossos do Barão retratam a decadência de uma classe social (a aristocracia rural) e a ascensão do imigrante provocada pela industrialização – fatos marcantes da história de São Paulo e do Brasil. Simultaneamente ao TBC surge em Recife o Teatro dos Amadores de Pernambuco com o um repertório fora dos moldes comerciais, com a colaboração de diretores dos teatros paulista e carioca, inclusive Ziembinski.
Nesse teatro, em 1955 foi estreada a peça O Auto da Compadecida do dramaturgo paraibano Ariano Suassuna que escreveu também: O Santo e a Porca, A Pena e a Lei, Auto de João da Cruz, Farsa da Boa Preguiça e O Casamento Suspeitoso.


O Teatro de Arena, fundado em São Paulo, em 1955, iniciou-se sob a direção de José Renato á frente de um grupo de ex-alunos da EAD e outros estudiosos e interessados em arte cênica. Formavam um grupo de nacionalistas que pretendia revitalizar o teatro com novas formulações, inclusive pesquisar um estilo original de montagem. Do grupo inicial faziam parte: Gianfrancesco Guarnieri, Flávio Migliaccio, Oduvaldo Viana Filho; outros mais foram aderindo a essa proposta de renovação teatral em nível de interpretação e encenação – um estilo brasileiro de fazer teatro, entre eles: Ziembinski, Augusto Boal, Flávio Império. ((O projeto desenvolveu-se em 4 etapas: 1º) Um laboratório de interpretação – baseado em Stanislavski: dirigido por Ziembinski; 2º) Um seminário de dramaturgia – cujo primeiro resultado foi Eles não Usam Black–Tie de Gianfrancesco Guarnieri (1958). Até o ano de 1962 muitos estreantes foram lançados: Oduvaldo Viana Filho com Chapetuba Futebol Clube; Roberto Freire com Gente como a Gente; Edy Lima com A Farsa da Esposa Perfeita; Augusto Boal com A Revolução na América do Sul; Flávio Migliaccio com Pintado de Alegre; Francisco de Assis com O Testamento do Cangaceiro; Benedito Ruy Barbosa com Fogo Frio. 3º) A nacionalização dos clássicos – A primeira das peças foi: Mandrágora de Maquiavel, o primeiro ideólogo de uma burguesia nascente; outros clássicos foram O Noviço de Martins Pena; O melhor Juiz o Rei, de Lope de Vega; O Tartufo, de Molière; O Inspetor Geral, de Gogol. Essa fase foi fortemente marcada pela encenação de Flávio Império – um celeiro tipicamente europeu era substituído por algumas palhas de milho no chão, um tijolo significava uma parede. 4º) Os musicais do Arena de maior sucesso foram: A Criação do Mundo Segundo Ari Toledo; Um Americano em Brasília de Nelson Lins de Barros, Francisco de Assis e Carlos Lyra; Arena Conta Bahia com Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa e Tom Zé; Tempo de Guerra com Maria Bethânia. O mais importante de todos foi Arena Conta Zumbi de Guarnieri e Boal, musicado por Edu Lobo, com enorme sucesso para a música Upa Neguinho.
Com o Musical Arena Conta Tiradentes surge a grande novidade: a criação do coringa.
Coringa é uma forma permanente de fazer teatro – estrutura de texto, de encenação e elenco – que incluía em seu bojo todos os instrumentais de todos os estilos. Há um ecletismo de gêneros e de estilos em um mesmo texto, desde o melodrama até a chanchada. Em Zumbi, algumas cenas como a do Banzo tendiam ao expressionismo, a cena do Padre e a da Senhora Dona eram realistas, a da Ave Maria era simbolista, a cena do Twist era quase surrealista. A realidade do coringa é mágica, ele a cria. Se for nessessário inventa muros, combates, banquetes, soldados, exércitos; para lutar inventa uma arma, para cavalgar inventa um cavalo; o fato histórico do Grito do Ipiranga é substituído pelo hino nacional. No sistema coringa há a desvinculação do ator – personagem; em Zumbi cada ator foi obrigado a interpretar todos os personagens. As metas do coringa têm o caráter estético - econômico.
Década de 60. Em 64: Golpe de estado. Abolição da constituição. Suspensão dos direitos adquiridos. Regime autoritário. Militarismo. Entretanto pela quantidade e qualidade essa foi a época de ouro da dramaturgia nacional. O teatro de Arena (São Paulo) encena Arena Conta Zumbi e o Teatro Arena do Rio de Janeiro encena o show Opinião escrito por Oduvaldo Viana Filho, Armando Costa, Paulo Pontes tendo como diretor Augusto Boal.
O Teatro Oficina – Grupo cultural criado em São Paulo sob a direção de José Celso Martinez Corrêa, inaugurou suas atividades em 1963 levando à cena um dos mais perfeitos espetáculos realistas já realizados no Brasil: Os Pequenos Burgueses de Gorki. Sobressaiu-se pela audácia de suas experiências e de suas inovações cênicas, aplicou teorias de Brecht a uma peça realista: Os Inimigos, (Gorki).
Em 1966 lançou Roda Viva de Chico Buarque de Holanda. Em 1967 fez a primeira histórica montagem de O Rei da Vela de Oswald de Andrade. Nessa década o teatro universitário encena no TUCA (São Paulo) o poema dramático Morte e Vida Severina de João Cabral de Melo Neto com direção de Sidney Siqueira, e Plínio Marcos inicia-se na dramaturgia com as peças: Navalha na Carne e Dois Perdidos Numa Noite Suja. Ademar Guerra dirigiu: O Auto da Compadecida (1960); Oh, que delícia de Guerra (1966); Marat Sade (1967); Hair (1969).






Aparentemente Arena e Oficina são divergentes em suas realizações, mas na verdade, ambos se completam. Os ideais são os mesmos, a diferença está na maneira de tratá-los. O Arena desenvolve primordialmente em trabalho de dramaturgia enquanto o Oficina está inteiramente voltado para a encenação Ambos se empenham numa firme resistência ao golpe militar de 1964. O Arena pára em 1971 após a prisão e exílio de Augusto Boal. O Oficina pára também, logo depois com a prisão e exílio de José Celso Martinez Corrêa.

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